No meio da estrada o carro se ia e o pó levantava que de longe se via.
O par de bois, forte, da raça Junqueira,
puxava o estrado da prancha, pesado.
O Carreiro lidava, servindo de guia,
andando na frente e o grito se ouvia:
“Estrela, danado... Anda Malhado!”.
Cada boi se firmava na canga com força
pra romper o picoto da curva da estrada...
No roçado de milho a safra colhia
e na fartura de grãos o balaio enchia,
mas na mão de menino os calos eu via.
Com esforço da lida a sede chegava
e na prancha do carro com a carga aprumada,
ligeiro eu pulava e pra cima subia.
Na volta pra casa de novo se ouvia
o grito já rouco servindo de guia,
tocando a frente ao riacho rumavam
os bois já com sede, com a pressa puxavam
o carro pesado que pela trilha descia.
A comitiva cansada na trilha seguia,
depois de um tempo o riacho se via
e no vau finalmente a gente rompia.
Com a água tão clara a sede matava,
sentindo no peito uma graça alcançada
e depois do regalo findando o descanso,
pela trilha de novo a gente se ia...
No carro de boi sentado e cansado
eu olhava o horizonte e a alegria sentia.
Desses dias infantes eu lembro saudoso
do som da pisada no meio na estrada,
do suor do Malhado e do chifre envergado,
do pelo estampado e luzido do Estrela,
com olho fechado do esforço danado
ao longo da estrada que o bicho fazia,
levando a carga que tanto valia.
Dos muitos cantões que ia e se vinha,
ouvia o lamento no meio do nada
que sem sofrimento a roda fazia...
Era um canto velado, sempre aguçado,
da roda azeitada no som que trazia
a carga pesada, pro sustento do dia.
© 2011 Luiz Alfredo Carvalho de Barros
Poema publicado no OverMundo em 23/03/2011